4/09/2016

Noticia - > Na Finlândia os bebés dormem em caixotes

Há 75 anos que as grávidas recebem um kit para os
 bebés e o caixote é para fazer de berço





Nem todos são altos, louros e de olhos azuis. Nem todos são fanáticos por saunas e lagos gelados. E nem todos bebem até cair. Também nem todos os finlandeses terão dormido dentro de caixas de cartão – mas neste caso a generalização só não se aplica a maiores de 75 anos. 

Desde 1938 que as futuras mães da Finlândia recebem do Estado um caixote com roupas, lençóis, produtos para o banho, fraldas, brinquedos e um minicolchão. Para a maior parte dos recém-nascidos no país, esse caixote, com o colchão no fundo, faz de berço durante os primeiros meses. Não terá sido a única, mas esta medida social ajudou a fazer com que em três quartos de século a taxa de mortalidade infantil no país baixasse das 65 crianças para as 2,3 em mil.

"Os bebés dormiam na cama dos pais, apesar das recomendações para que não o fizessem. Incluir a caixa de cartão como cama levou a que as pessoas passassem a deitar os filhos longe de si", explicou à BBC News Panu Pulma, professor de História Finlandesa e Nórdica na Universidade de Helsínquia. 

kit de maternidade, inicialmente disponível apenas para as famílias mais pobres (que eram dois terços da população) mas desde 1949 oferecido a todas as grávidas até ao quarto mês de gravidez, é um símbolo da igualdade e importância das crianças, diz o professor. O último relatório da organização não governamental Save the Children dá-lhe razão: a Finlândia é o melhor país do mundo para ter filhos.



Apesar de actualmente o conteúdo da caixa poder ser trocado por um vale de 140 euros, 95% das grávidas prefere os géneros. E muitas ainda põem os bebés a dormir nas caixas nos primeiros meses. 

O recheio do caixote, que é igual para rapazes e raparigas, tem mudado. Nos anos 30 e 40, em vez de roupas as mães recebiam rolos de tecido, para que elas próprias pudessem costurar; durante a Segunda Guerra Mundial, como o algodão e a flanela eram necessários ao Ministério da Defesa, passaram a oferecer-se lençóis de papel e pedaços de pano; casacos e calças só apareceram na década de 50; em 1968 foi incluído pela primeira vez um saco-cama e, no ano seguinte, fraldas descartáveis. 

Como aconteceu em 1938, o Kela (equivalente finlandês do Instituto da Segurança Social) continua a utilizar o caixote de maternidade para alterar mentalidades. Em 2006, por exemplo, foi decidido que o kit já não incluiria biberões: "Um dos principais objectivos era levar a que as mulheres amamentassem mais. E isso aconteceu", diz Panu Pulma. Logo a seguir, foram retiradas as fraldas descartáveis e reintroduzidas as de pano. Tudo na linha da política do Ministério do Ambiente, que em 2009 aprovou um plano para que até 2016 o país seja uma "sociedade de reciclagem".

Artigo publicado originalmente na edição n.º 479, no dia 4 de Julho de 2013.

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